Quando Susan Borowitz estava crescendo, ela viu um comercial do perfume Wind Song: “o rosto de uma linda mulher vista através de uma janela enevoada de um trem a vapor, seu belo pretendente olhando da plataforma com saudade, enquanto um tenor cantava ‘eu posso’ parece que te esqueci; sua Canção do Vento fica na minha mente…” Olhando para trás, ela se descreve como uma “adolescente apaixonada”. Na época, ela queria ser a mulher do anúncio.
Como meninas e mulheres jovens, estamos cercadas por esses tipos de imagens – fotos que nos mostram como a vida “deveria” ser quando crescermos e tivermos tudo planejado. Em Locked-In , Borowitz apresenta uma alternativa, posando em autorretratos que expressam as frustrações da vida real de ser humano – e mais especificamente, de ser mulher em uma sociedade moldada, em parte, por estruturas patriarcais.
Essas frustrações ganham vida através de performances físicas: a artista aspira uma praia, planta um jardim no deserto, senta em um carro indo a lugar nenhum e se encontra em uma piscina sem água. Ela é Sísifo rolando a pedra ou Tântalo pegando frutas. Em uma fotografia, ela riffs no Triple Self-Portrait de Norman Rockwell ; enquanto os olhos de óculos de Rockwell estão bem abertos em sua versão, Borowitz está vendado nos dela.
Locked-In começou em parte como uma forma de visualizar as pressões do envelhecimento em um mundo que idolatra a juventude, mas Borowitz desde então descobriu que isso ressoa com mulheres mais jovens também. Em retrospectiva, ela acredita que pode ter subconscientemente se baseando em suas experiências com depressão clínica em seus trinta e quarenta anos.
Embora as fotografias em si representem a sensação de estar preso, elas foram, de fato, feitas em todo o mundo. Quando Borowitz chegou ao outro lado dessa depressão, ela viajou – muito. Na vida real, ela não está presa. Durante a realização do projeto, seus amigos e contatos a avisaram sobre locais que poderiam ser de seu interesse; alguns são fotógrafos que realizam workshops em lugares abandonados. Às vezes, o próprio lugar inspira a história que ela conta, e outras vezes é justamente o contrário.
A primeira foto foi Stalled : depois de encontrar um cemitério de carros em uma vila no Cazaquistão durante uma oficina de fotos, Borowitz pulou para dentro. Ela fez Stilted depois de descobrir, por acaso, uma casa em reforma; “tinha estacas que sustentavam o andar de cima enquanto o andar de baixo foi eviscerado e arrasado”, lembra ela. “Eu estava querendo fazer uma imagem de uma mulher voltando para ‘casa’ com bagagem apenas para encontrar um terreno vazio, mas percebi que isso era muito melhor.”
No Vacancy a levou para outro tipo de local: os restos de Belchite, uma cidade velha destruída durante a Guerra Civil Espanhola. Ao todo, as fotografias apresentam locais espalhados pelo Cazaquistão; Espanha; Romênia; Mongólia; Índia; Tailândia; Vietnã e vários estados dos EUA, incluindo Nova York, Nova Jersey, Massachusetts, Pensilvânia e Illinois.
A obra de Borowitz combina o humor inexpressivo de Buster Keaton com a crítica cultural de Cindy Sherman na era Untitled Film Stills , com a última tendo incorporado vários arquétipos femininos inspirados em filmes dos anos 1950 e 1960. Enquanto Borowitz admite que sua persona em Locked-In representa uma espécie de “toda mulher”, uma diferença fundamental entre Locked-Ine Film Stills de Sherman é que Borowitz ainda é, essencialmente, ela mesma. Ela está desempenhando um papel, mas também está sendo honesta consigo mesma.
Locked-In é engraçado porque também é doloroso. A criação das fotografias foi alegre, mas também árdua. Enquanto alguns dos cenários mais impossíveis foram trazidos à vida na pós-produção, ela realmente trouxe uma bicicleta para o oceano. Sua amiga estava na praia, pronta para apertar o botão do obturador, quando a artista foi varrida por uma onda. Ela perdeu o equilíbrio e ficou agarrada freneticamente à bicicleta, lutando contra uma ressaca que ameaçava puxá-la para o mar. Sua amiga ainda ri toda vez que vê a foto.
Ao trabalhar em um bonde abandonado, Borowitz cortou a perna em uma unha quebrada; em outros casos, ela enfrentou temperaturas congelantes ou subiu em uma escada abandonada que poderia ter desmoronado a qualquer momento. Para criar o Bottomless Cup , ela teve que andar uma milha a pé, carregando todo o seu equipamento pesado em uma carroça pelo terreno da floresta. Muitas das filmagens foram esforços em grupo, feitos com amigos, então, embora possam ter trazido desafios, ela olha para eles com muito carinho.
A foto que ela fez no cemitério de trolls foi uma das poucas que não surgiram espontaneamente da imaginação do artista. Esse, por acaso, foi inspirado naquele anúncio do perfume Wind Song que a cativou décadas atrás. “Finalmente consegui ser essa mulher”, ela me diz. “Mas o trem está abandonado, coberto de trepadeiras e arbustos retorcidos.”
Em Locked-In , o personagem central é frustrado a cada turno. Eu entendo porque tantas pessoas se identificam com ela, mas mais do que isso, eu a admiro. Mesmo quando nada dá certo, ela continua tentando, na firme esperança – e crença – de que algum dia, de alguma forma, ela chegará aonde quer que esteja indo. As probabilidades estão contra ela, mas ela é implacável na busca de seus objetivos. Claro, ela não é o arquétipo feminino idealizado dos anúncios de perfumes, mas talvez ela seja ainda melhor. Ela ainda é, em algum sentido essencial, uma aspiração – alguém que todos nós podemos nos esforçar para ser.
Todas as imagens © Susan Borowitz